About Me

header ads

“Morreria pelo meu cachorro”: veja a relação entre moradores de ruas e seus cães


Invisíveis para a sociedade, moradores de rua enxergam em seus animais o companheirismo que não encontram nos humanos. É comum encontrar pessoas carentes nas ruas de São Paulo acompanhadas apenas pelo amigo de quatro patas. É o caso de Beatriz Menezes, de 25 anos. Apesar de muitas vezes não ter comida suficiente para a própria sobrevivência, ela confessa que fica sem comer para alimentar o cão Malhado, parceiro há sete anos. 

Hoje com pelos brilhantes, que são escovados e limpos toda semana, Malhado foi encontrado por Bia quando era filhote dentro de um buraco na Praça Santa Cecília, no centro da capital paulista. “Ele é meu melhor amigo, morreria pelo meu cachorro. E sei que sou responsável pelo Malhado porque ele não fala. Eu me viro, mas ele não sabe pedir ajuda”, justifica a mulher, que está grávida de sete meses, sobre os momentos que escolhe ficar sem comer pelo cão. 

 Ao seu lado, “como uma sombra”, Malhado observa cada pedestre que se aproxima da sua tutora. Bia tranquiliza a reportagem dizendo que durante o dia o cão é muito amável, “apenas à noite ele entra em estado de alerta” para protegê-la. A parceria entre os dois é bem conhecida pelos moradores da praça General Jardim, no centro, que são tratados por ela como “tio”, “tia” e “vó”, depende da idade do pedestre. “É uma relação de respeito, né?” 

 E esse respeito foi observado por Rosicleia Vicaril, de 53 anos, proprietária de um petshop na mesma rua há 16 anos. A comerciante ajuda Bia com porções de ração, vacinas e até material para dar banho em Malhado. “Uma vez ela até pediu algodão para colocar no ouvido dele durante o banho. Ela cuida dele como filho, por isso ajudo. Me emociono com a dedicação dos dois, um cuida do outro.” 

“Ele vale 1 milhão de dólares” 

 Ao ser abordado, o ex-pintor Kiko, de 60 anos, só aceitou conversar sobre a história do seu labrador mestiço Jamaica, de dois anos. Falar sobre o que levou Kiko a morar em sua Kombi é algo dolorido e “que não vale ser repetido”. O recomeço, segundo ele, foi adotar o filhote, que exibe pelagem bonita e pula alegremente com a saída do seu tutor do carro. “Não vivo sem esse safado”, diz ele, retribuindo o carinho do animal. 

 Com aproximadamente 30 kg, Jamaica chama a atenção com o seu porte por onde passa. Kiko já recebeu inúmeras propostas para vender o animal. E dá o preço: “Ele custa 1 milhão de dólares. Coloquei esse preço pensando exatamente que ninguém irá cobrir. Com posso vender o único cara que me dá bola e aguenta ouvir os meus problemas?”, desabafa com lágrimas no rosto. O morador de rua já foi convidado por uma assistente social para morar em abrigo, mas recusou porque não pode levar Jamaica. 

 A Kombi carrega todos os pertences de Kiko, inclusive três sacos de ração para cachorro, dois doados por vizinhos. O ex-pintor esclarece que o animal é dócil, mas tem problemas com homens. “O garoto é esperto, só pula e pede carinho das meninas que passam aqui.” Além de companhia durante as buscas por papelão na região, Jamaica mostra que se preocupa com o tutor. Kiko garante que suas idas ao bar ou o ato de acender um cigarro irritam o animal. “Ele late, fica furioso comigo. Ele cuida de mim.”

 “Amor maior do que dentro de casa” 

Desde o começo da vida profissional, o fotógrafo Edu Leporo decidiu se dedicar ao trabalho com animais. Após centenas de ensaios com cães na casa dos tutores, ele questionou o poder da relação entre um animal – muitas vezes abandonado – e o morador de rua. 

 Surgiu então o projeto “Moradores de Rua e Seus Cães”, que reúne 15 histórias de amor incondicional. “Tento mostrar para a sociedade que apesar de serem moradores de rua, sujos e muitas vezes mal cuidados, eles são pessoas de bem. E fazem questão de compartilhar o pouco que têm com o cão”

 Em todas as suas caminhadas, o profissional garante que nunca encontrou um cão em más condições. “Muitos recebem mais amor do que se estivessem dentro de uma casa”, diz. Ao abordar seus entrevistados, Leporo percebeu que muitos moradores de rua não queriam ter o cachorro fotografado por medo de sequestro. “Eles reclamam que muitas pessoas passam, oferecem dinheiro pelo animal e até roubam quando não estão por perto.” 

 Entre suas história está a de Gilberto, que mora na região do parque Trianon, ao lado da avenida Paulista, em São Paulo, e teve três cachorros sequestrados por uma falsa cuidadora. “Após ter problemas com a polícia, uma senhora se ofereceu para cuidar dos cães, mas ela nunca devolveu. Hoje ele tem novos animais, mas fala até em greve de fome para recuperar os outros três.” 

 Atualmente, o fotógrafo procura patrocinadores para seu projeto, que deve virar um livro e uma exposição no centro de São Paulo. “Quero que eles [os moradores de rua] possam acompanhar o resultado. É um trabalho voluntário e faço isso por eles.”

 Fonte: Tribuna da Bahia

http://www.anda.jor.br/

Postar um comentário

1 Comentários